Vice-presidente jurídico da Abralog faz reflexão sobre as práticas ESG no Brasil e no mundo
‘Recolocar’ é a bola da vez
Vinicius Alves Abrahão, fundador e CEO da Gooxxy
A decomposição de resíduos orgânicos em aterros sanitários é uma das principais fontes de emissão de um dos gases de maior impacto no aumento do efeito estufa na Terra, o metano (CH4) – gás mais prejudicial à atmosfera que o dióxido de carbono (CO2), considerado um dos principais vilões quando o assunto é aquecimento global.
Por isso, se faz cada vez mais importante que ações de destinação de resíduos sejam altamente eficazes, de modo que apenas os materiais inservíveis para reciclagem sejam encaminhados, de fato, para estes lugares.
Só de imaginar que 9 milhões de toneladas de produtos aptos ao consumo/uso, como alimentos, bebidas e itens de higiene, podem parar mensalmente nos aterros sanitários brasileiros – que possuem vida útil de dez anos em média – é lamentável. Isso, inclusive, foi um dos motes para a criação de uma solução pioneira no país, destinada a recolocar bens aptos ao uso ou ao consumo e que seriam descartados pela indústria do atacado e do varejo, seja em virtude da data aproximada de vencimento, remanufaturados ou descontinuados.
A Gooxxy, nascida em 2018 com o lema “recolocar é mais sustentável do que descartar”, viu sua cartela de grandes indústrias e varejistas alcançar um patamar importante em pouco mais de quatro anos. Atualmente são mais de 100 indústrias parceiras que têm produtos recolocados pela startup, que, por sua vez, tem mais de 750 clientes – mais precisamente pequenos empresários – que, interessados nos itens, realizam a comercialização a preços promocionais à população, muitos deles alcançando 90% de desconto nos itens para os consumidores.
O interesse de empresas na recolocação ainda corroboram para: diminuir índices de desperdício globais – dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que 1/3 de todos os alimentos produzidos no mundo são desperdiçados anualmente; e para estimular a economia. É que, por meio de soluções como a da Gooxxy, é possível gerar faturamento para a indústria, uma vez que ainda transforma o custo de desindustrializar em receita para o setor.
Segundo o Índice Global Positioning on Sustainability (GPS), realizado pela consultoria Walk The Talk by La Maison, entre as práticas de ESG (sigla para meio ambiente, social e governança) nas empresas mais valorizadas pelos brasileiros, em 8º lugar está o investimento em tecnologia para diminuir os respectivos impactos ambientais. Já um estudo da Ágora Investimentos, divulgado em 2020, aponta que a adoção de práticas de ESG traz diversos impactos positivos para as companhias.
Logo, em um mundo cada vez mais global e dedicado a ações em prol do meio ambiente para todo mundo ver, recolocar deve ser a “bola da vez” nesta e nas próximas décadas para indústrias e grandes varejistas não apenas evitarem desperdícios, mas para que tenham vantagens competitivas, melhorem a reputação, tenham maior lucratividade e até alcancem melhor valuation (termo em inglês para valoração da empresa).
Vinícius Alves Abrahão é fundador e CEO da Gooxxy, empresa de tecnologia responsável por oferecer soluções de recolocação, no mercado, de bens de consumo que seriam descartados pela indústria e varejo. Foto: Divulgação