Preço do combustível, causas do aumento e as possíveis soluções

Preço do combustível, causas do aumento e as possíveis soluções

Com o reajuste de 19% na gasolina e de 25% no diesel, anunciado pela Petrobras, o valor médio da gasolina ultrapassou R$ 7 por litro em algumas regiões do país. Registrando alta de 1,83%, a média nacional chegou a R$ 7,006, enquanto em fevereiro era de R$ 6,880, segundo levantamento exclusivo feito pela ValeCard, empresa especializada em soluções de gestão de frotas.

Com isso, surge o questionamento se o aumento nos preços dos combustíveis é um impacto do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia. Leandro Coutinho da Silva, especialista na Vertical de Óleo & Gás da Imagem Geosistemas, confirma que o cenário da Europa afeta diretamente a reserva brasileira. “Praticamente 25% do consumo do óleo diesel no Brasil é proveniente de insumo importado, ou seja, a variação na oferta internacional, seja por preço ou volume disponível, por si só já é um impacto significativo”, afirma.

Um fator significativo é o tributário. Segundo a Federação Nacional de Comércio de Combustíveis (Fecombustíveis), existe variação significativa da carga tributária no país. A alíquota do Diesel S10 em fevereiro de 2022, variou de 12 a 25% dependendo da unidade federativa. Dessa forma, é preciso considerar a carga tributária no ato da compra de insumos e da venda do produto derivado, prevendo impostos de forma regionalizada.

Outros fatores como a infraestrutura e a distribuição geográfica dos ativos envolvidos na cadeia de suprimentos também são causas significativas do aumento nos preços, pois determinam a capacidade de escoamento dos insumos que chegam nos portos de importação, localizados no litoral, em direção ao resto do país.

É também no litoral que está a concentração da produção nacional dos derivados de petróleo. Segundo informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 13 das nossas 15 refinarias e 111 das 276 bases de distribuição de combustíveis do país estão instaladas a até 200km do litoral. “Em outras palavras, os combustíveis são produzidos no litoral e precisam ser escoados para o interior, onde há grande demanda. Para isso existem grandes transportadoras rodoviárias operando no centro-oeste do país, bem como toda a frota de maquinário que serve ao nosso agronegócio”.

No caso do óleo diesel, é amplamente conhecida a obrigatoriedade da sua mistura com 11% de biodiesel (o mesmo acontece com a “Gasolina A”, com mistura de 27% de etanol anidro). Nesse caso, a concentração da produção de biodiesel se dá no Centro-Oeste. Portanto, o escoamento do óleo diesel se dá do litoral em direção ao continente e o biodiesel faz o movimento inverso.

A deficiência de infraestrutura logística e de transportes de combustíveis gera vulnerabilidade e pode resultar na perda de competitividade, ocasionando potenciais aumentos de custos na cadeia produtiva do petróleo. “A previsão de demanda, planejamento de estoque e a movimentação de cada subproduto configuram os principais riscos nessa cadeia, um movimento mal planejado e toda ela é impactada”, explica.

O Brasil é o 7º maior mercado consumidor de derivados de petróleo, e conta com uma malha de 5,8 mil km de dutos destinados exclusivamente à movimentação de derivados de petróleo. Deste total, 76,5% são dutos de transporte, além das outras modalidades que transportam combustíveis líquidos em território nacional: rodoviário (caminhões-tanque), ferroviário (vagões-tanque) e aquaviário (navios e balsas). A necessidade de melhorar ou trazer novos modais de transporte está em aumentar o volume transportado, diminuir a quantidade de viagens e evitar perdas.

Outro ponto é que a retenção dos produtos nos tanques dos terminais marítimos aumenta o custo financeiro das operações logísticas. O custo médio diário de um navio parado é de US$ 22 mil. Considerando que aproximadamente 25% do óleo diesel consumido no país é importado, é possível entender o tamanho do prejuízo que pode ocorrer durante o processo.

Entre as possíveis soluções está a utilização de novos modais de transporte para diminuir o custo do transporte de produtos e, consequentemente, aumentar a competitividade no mercado, como os incentivos a construção de novas ferrovias através da Lei 14.273/21. Além disso, a expansão da infraestrutura de transporte de combustíveis pode diminuir a dependência do modal rodoviário e aumentar a capacidade instalada em outros modais.

Portanto, é preciso possuir meios de planejamento eficientes que sejam capazes de determinar quais instalações devem ser utilizadas nas operações, quantas são necessárias, onde devem estar localizadas, quais os produtos e clientes devem ser designados a cada uma e quais os serviços de transportes. “Ao fazer isso de forma adequada e com a digitalização de toda a cadeia de suprimentos, é possível chegar a uma economia anual de 5% a 15% dos custos logísticos totais”, finaliza.

Crédito das imagens: Divulgação

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