Marketplace impulsiona de pequenos comerciantes a grandes marcas na pandemia

Marketplace impulsiona de pequenos comerciantes a grandes marcas na pandemia

Quem nunca pediu um Uber para fugir dos preços altos das corridas de táxi ou da superlotação dos ônibus, ainda mais quando tudo o que se deseja é correr léguas de uma aglomeração? Ou quem nunca pediu o jantar no iFood, após um dia de trabalho exaustivo em home office durante a pandemia? Mesmo oferecendo serviços tão diversos quanto transporte e entrega de refeições em domicílio, ambas as companhias são a parte mais popular do chamado marketplace, modalidade de comércio em franca expansão no Brasil.

As origens desse tipo de negócio remontam aos antigos catálogos comerciais, mas em sua versão virtual o pioneirismo do marketplace coube à empresa norte-americana eBay, fundada em 1995, tida também como uma das primeiras a trabalhar com comércio eletrônico (e-commerce). Na plataforma, o usuário pode negociar quase qualquer produto. No Brasil, o pioneirismo coube ao Mercado Livre que lançou suas operações em 1999, quase simultaneamente aqui, na Argentina e em outros países da América Latina. Grandes varejistas como Lojas Americanas e Magazine Luiza também aderiram ao formato.

De acordo com o Christian Avasque, professor da Faculdade CDL e da UniChristus, a principal característica que diferencia o marketplace das demais modalidades de comércio eletrônico é a possibilidade de “juntar vários fornecedores em uma mesma plataforma digital. O marketplace serve também para que pequenas e médias empresas que não querem ou não podem ter um investimento muito grande para criar sites, blogues ou aplicativos possam vender no mercado digital”. Ele lembra que a própria Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza criou uma ferramenta do tipo, a Lojas Aki, voltada para pequenos empresários.

O educador e administrador observa que, em geral, por trás de um marketplace está “uma corporação com muita capilaridade, grande porte e que criou um modelo de negócio novo, disponibilizando toda uma infraestrutura e uma expertise em construir anúncios e campanhas, em ambiente digital”. Ele acrescenta, por outro lado, que, durante a pandemia, “as pequenas e médias empresas puderam deslocar parte dos recursos que iria para outros investimentos para esses canais digitais”.

Avasque lista como principais vantagens para os pequenos negócios a possibilidade de aproveitar a maior penetração dos marketplaces no mercado consumidor, a oportunidade de expandir a marca e a divulgação de produtos e serviços a baixo custo. Apesar disso, nem sempre se associar a um negócio como esse é garantia de economia.

Há cinco dias, o Sindicato de Restaurantes, Bares, Barracas de Praia, Buffets e Similares do Estado (Sindirest-CE) anunciou o lançamento de sua própria ferramenta digital, o ‘Pensou Chegou’, justamente para fugir das taxas de até 27% cobradas por empresas como o iFood, consideradas abusivas por donos de pequenos restaurantes.

Além dessa iniciativa recente, o professor Christian Avasque cita outros marketplaces criados em Fortaleza que foram desenvolvidos ou se expandiram durante a pandemia. “Nós temos um grupo chamado VivaReal que congrega vendedores de imóveis e temos o Menu Brands, que une restaurantes que compartilham algumas operações”, lista.

Nesse sentido, o professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), Vivaldo José Breternitz, reforça como a necessidade de sobrevivência das empresas em um contexto de crise sanitária ajudou no crescimento do marketplace no Brasil, cujas vendas saltaram 52% em 2020.

“Na atualidade, a gente viu a pandemia dando uma vitaminada nesses negócios. As pessoas não puderam sair às compras e, então, tanto surgiram novos marketplaces quanto mais empresas de pequeno porte aderiram aos já existentes. É uma modalidade de negócio que já se consolidou”, afirma o pesquisador.

Para Breternitz, o maior obstáculo para que esse tipo de comércio continue a crescer no Brasil pós-pandêmico é a logística de entrega dos produtos ao consumidor. “Os Estados Unidos, por exemplo, sempre tiveram um serviço de correios altamente confiável. Aqui no Brasil, isso é um gargalo”, lamenta.

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