Exclusivo: Tarpon lidera aporte de R$ 500 milhões na NSTech no Brasil
A Tarpon dobrou a aposta em tecnologias para logística de cargas rodoviárias, nicho ainda pouco explorado e de potencial bilionário. Depois de investir R$ 300 milhões em quatro aquisições desde dezembro para montar a NSTech, a gestora fundada por Zeca Magalhães e Pedro Faria acaba de assinar um acordo para unir a operação da investida à Praxio, dona de softwares de gestão para transportadoras.
A fusão vem acompanhada de um aumento de capital de R$ 500 milhões, recheando o caixa da NSTech para novas aquisições. A capitalização é liderada pela Tarpon, com capital proprietário e recursos de family offices que já investiram na tese.
Mas os brasileiros não estão sozinhos no investimento. A Greenbridge, gestora de private equity fundada pelos suecos Ola Rollen e Melker Schorling — os nomes por trás da Hexagon AB, empresa de tecnologia avaliada em mais de US$ 35 bilhões na bolsa de Estocolmo —, também participa do aumento de capital da NSTech.
A Greenbridge já era acionista da Praxio, seu único investimento no Brasil, onde a operação da gestora é liderada por Eduardo Steinberg. Os suecos entraram no capital da Praxio em 2016 e já aplicaram quase R$ 200 milhões para ajudar a companhia de software a se expandir. Na NSTech, os investidores europeus se tornam acionistas minoritários com peso relevante.
No exterior, a gestora tem apostas em negócios como a americana Neo4j, startup de gerenciamento de dados gráficos que levantou US$ 325 milhões há duas semanas.
A estratégia da NSTech tem a assinatura de Vasco Oliveira. O empresário, que fundou e vendeu a operadora logística AGV à mexicana Femsa, tornou-se sócio da holding SK Tarpon no ano passado e lidera a Niche Partners, braço do ecossistema Tarpon que investe em teses de nicho — a primeira delas é a NSTech.
“Com a fusão, devemos faturar mais ou menos R$ 330 milhões, e 90% das receitas são recorrentes”, contou Vasco ao Pipeline. Os negócios que formam a NSTech têm margens acima de 30%, com um Ebitda da ordem de R$ 90 milhões.
A NSTech vai usar R$ 350 milhões da capitalização para fazer aquisições e o restante para acelerar o crescimento orgânico, com investimentos em P&D e marketing. Como a estratégia de M&A também será financiada com dívidas — cerca de R$ 150 milhões —, a companhia conta com R$ 650 milhões para investir. “Temos espaço para acelerar o crescimento orgânico e ao mesmo tempo fazer novos M&As”, disse Vasco.
No radar, estão aquisições de mais companhias de software TMS — sigla em inglês para Transportation Management System —, fintechs e marketplaces ligados a frete de cargas. A entrada em serviços financeiros deve aproveitar a imensa base de dados logísticos que as companhias adquiridas pela NSTech trouxeram, o que inclui cerca de 1,8 milhão de caminhoneiros cadastrados e R$ 12,5 trilhões de cargas averbadas por ano.
Na Buonny, primeira aquisição da NSTech , mais de 1,8 milhão de caminhoneiros cadastrados — Foto: Reprodução
Na rápida construção da NSTech, a Tarpon vem conseguindo bater as próprias metas. Quando comprou a Buonny em dezembro, Vasco previa investir R$ 300 milhões em 2021, mas o montante já foi atingido e a capitalização já leva os investimentos da gestora para mais de R$ 550 milhões.
Além da Buonny — um negócio que ajuda a reduzir os riscos de roubos de cargas de caminhões —, a NSTech fez outras três aquisições antes da fusão com a Praxio: Opentech (que ajuda na gestão logística de produtos farmacêuticos e frigorificados); AT&M (líder em averbação de cargas) e Brasil Risk, que acompanha viagens em tempo real e ajuda na prevenção de acidentes rodoviários com a análise de dados.
No horizonte, a Tarpon mantém planos de fazer o IPO da investida. O cronograma prevê uma oferta em dois anos, dando saída a minoritários e facilitando a estratégia futura de M&As da NSTech. “Numa empresa listada, você pode usar ações como pagamento de forma simples”, argumenta Vasco.
A Tarpon e tampouco a Greenbridge vislumbram uma saída da NSTech tão cedo — o IPO não serviria a esse propósito, garantem. “O maior alfa que você consegue capturar não é nos primeiros cinco ou dez anos, mas muito depois, o que vai contra as teses dos fundos tradicionais que tem data para sair”, resume Steinberg. Fonte: Valor Econômico / Fotos: Divulgação