Custos de transporte marítimo subiram quase 60% desde o início da guerra na Ucrânia
Por Pedro Borg, Valor
O efeito dominó da guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia já está sendo sentido em diversas áreas da economia, e um dos setores mais afetados é o de transporte marítimo. Por conta do conflito, o setor perdeu acesso a grande parte do Mar Negro, além de ter envios diminuídos por contas dos embargos contra a Rússia e perdido a possibilidade de escoar a produção agrícola da Ucrânia.
O cenário fez com que os custos do transporte marítimo aumentassem em quase 60% entre fevereiro e maio deste ano, segundo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), braço da ONU. Os motivos são diversos, como a interrupção de redes de logística regional e das operações portuárias na Ucrânia, a destruição de infraestruturas importantes, restrições comerciais, aumento dos custos de seguros e preços mais altos dos combustíveis.
Segundo a UNCTAD, muitos países tiveram que procurar fornecedores de petróleo, gás e grãos em locais mais distantes, aumentando o tempo e os custos do translado.
A agência também disse que a guerra na Ucrânia é um fator importante para explicar a alta, mas que não é o único, e citou a pandemia de covid-19, portos congestionados e a necessidade de realizar transição energética como outros fatores que influenciaram na alta dos transportes via mar.
“No entanto, é claro que as interrupções e a maior demanda por tonelada-milha causada pela guerra na Ucrânia contribuem fortemente para o aumento dos custos de envio”, disse a UNCTAD.
Alimentos caros
Os problemas no setor de transportes marítimos vão fazer com que o custo da comida em todo mundo suba quase 4% – metade dessa alta é resultado dos altos custos de transportes.
A entidade também reforçou a importância que Rússia e a Ucrânia têm para as cadeias de alimentos globais. Juntos, os países representam 53% de toda produção mundial de semente de girassol, 27% de toda a produção global de trigo, e são responsáveis pelo fornecimento de ao menos metade do trigo usado em 36 países.
Os números dão a dimensão da importância dos países para as cadeias globais de alimentos, mas apontam para um mercado a ser explorado. Entre os países que podem se aproveitar deste vácuo é o Brasil.
Segundo a UNCTAD, o Brasil deve aumentar em 37% suas exportações de trigo e grãos em 2022. Já o Reino Unido e a União Europeia devem expandir suas exportações em 8% durante o mesmo ano. A médio prazo, Austrália, Brasil e Estados Unidos podem assumir o fornecimento de alimentos para o norte da África e o Oriente Médio.
Fonte: Abralog citando Valor Econômico
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