Conectar histórias além de mercadoria: a logística em 2025
*Gustavo Artuzo
A logística conhecida hoje pode já não ser a mesma no próximo ano. À medida que o mundo se torna mais conectado e os consumidores esperam soluções práticas e ágeis, as empresas precisam acompanhar o ritmo – ou ficam para trás. Esse cenário é impulsionado não apenas pela globalização, mas também pela aceleração tecnológica e pela crescente preocupação com práticas sustentáveis, que moldam as expectativas dos consumidores modernos. Em 2025, os produtos não serão apenas entregues; haverá uma conexão com pessoas e suas respectivas experiências e necessidades de forma que, há poucos anos, parecia impossível e até um tanto inimaginável.
Hoje, não existem mais fronteiras quando o assunto é logística. Por isso, um dos maiores motores dessa transformação é a internacionalização das operações. Pequenas empresas estão vendendo para mercados internacionais com a mesma facilidade com que atendem os clientes locais, e isso muda completamente o jogo. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o volume de comércio global deve crescer 4% ao ano até 2025, indicando um mercado cada vez mais conectado e interdependente.
Um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Serviços de Comércio Exterior (Secex) aponta que 4 em cada 10 empresas brasileiras que exportam já são pequenos negócios. Para quem trabalha no setor, isso significa lidar com novos desafios, como adaptar processos às exigências de diferentes países e otimizar custos sem comprometer prazos ou qualidade. É um equilíbrio delicado, mas também uma enorme oportunidade para aqueles que se antecipam.
O protagonismo da China no cenário internacional tampouco pode ser ignorado. Empresas como Alibaba e JD.com estão investindo bilhões de dólares em redes logísticas inteligentes, prevendo expandir suas operações para mais de 100 países até 2025, conforme dados da Bloomberg. É impossível ignorar esse país no contexto da logística, pois, além de serem as maiores exportadoras do mundo, as empresas chinesas têm adquirido um papel de liderança na inovação. Elas definem tendências, criam novas tecnologias e desafiam os padrões. No setor logístico, isso é visível em tudo: na agilidade nas entregas, nos veículos independentes e até nos sistemas de inteligência artificial aplicados à cadeia de suprimentos. Com essa competitividade fora do Brasil, fica a lição de que o esforço precisa ser maior, assim como a eficiência e a produtividade.
Falando em inovação, a ampliação dos modos de entrega é uma demanda ainda mais presente no dia a dia dos consumidores. Segundo a McKinsey, 73% dos consumidores esperam mais opções de entrega flexíveis, como lockers e pontos de retirada, destacando a necessidade de soluções que ofereçam conveniência e agilidade. A regra é clara: se a entrega não é imediata, o pacote é que deve esperar pelo consumidor, e não o contrário. Se, no passado, o prazo era o único fator decisivo para a entrega, hoje, a conveniência é o que manda. O cliente quer escolher o produto, mas também como recebê-lo. Então, as opções precisam ser tão diversas quanto as pessoas que utilizam o serviço. Afinal, ninguém quer ficar preso em casa esperando uma encomenda ou enfrentar burocracias só para pegar um pacote.
Por outro lado, há um ponto que ainda representa uma dor de cabeça para muitas empresas: a logística reversa. Estudos da Frost & Sullivan apontam que a logística reversa será um mercado de U$ 958 bilhões até 2028, impulsionada pela preocupação com sustentabilidade e pelo aumento das devoluções no e-commerce. Trocar ou devolver um produto ainda é problemático para muitos consumidores. Longos prazos para reembolso, necessidade de imprimir etiquetas ou enfrentar filas… Tudo isso cria atritos que poderiam ser evitados. E essa é a grande oportunidade para o setor de simplificar os processos.
Um estudo da Indústria e Comércio de Veículos Especiais (Invesp) revelou que 92% dos consumidores continuam comprando em lojas que oferecem devoluções fáceis e rápidas. Portanto, a logística reversa pode passar de vilã para salvadora num piscar de olhos, especialmente no caso de empresas que investem nos métodos certos para a sustentabilidade das devoluções. A lição é simples: cuide bem de seu cliente no pós-vendas, e ele retribuirá com lealdade e novas compras.
E finalmente, há a integração com os modelos de fulfillment – ou cumprimento, em tradução livre – que estão se consolidando como o coração da logística moderna, devendo atingir U$ 96 bilhões até 2026. Responsável por centralizar desde o armazenamento até a entrega ao consumidor, o fulfillment é a peça-chave que une todas as pontas do processo logístico, tornando tudo mais fluido e eficiente. Quando bem implementado, ele reduz custos, acelera prazos e, acima de tudo, garante que a experiência do cliente seja impecável. No mercado atual, uma boa experiência define a reputação de uma marca.
O futuro da logística pode parecer muito distante, mas 2025 está logo ali para mostrar que essas tendências são, na verdade, um reflexo claro do que os consumidores pedem há tempos: mais flexibilidade, agilidade e eficiência. O desafio será grande, mas as oportunidades são ainda maiores, já que a logística do futuro vai além do deslocamento. Será sobre conectar histórias, expectativas e experiências.
*CEO da Clique Retire
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