Tarifa de importação de pneus provoca embate entre entidades do setor
Asfalto-borracha que será usado no Sistema Anhanguera-Bandeirantes é reciclado de pneus
O modal rodoviário representa cerca de 75% do transporte de carga no Brasil e depende totalmente da qualidade das rodovias. Quanto mais bem cuidadas, a viagem se torna mais rápida e os custos, mais baixos. E a qualidade do pavimento está ligada diretamente a esta questão.
Pesquisa de 2023 da CNT (Confederação Nacional do Transporte) estima que o aumento do custo operacional do transporte rodoviário de cargas, em decorrência da má conservação do pavimento das rodovias no Brasil, foi de 32,7%.
Por isso, os pesquisadores estão sempre em busca de novas tecnologias de asfalto que tornem os trajetos mais fáceis país afora. A última moda é o asfalto-borracha, ou asfalto ecológico, que usa em sua composição o pó obtido na reciclagem dos pneus, que, se ficassem na natureza, demorariam 600 anos para se decompor.
Os defensores desse produto tecem elogios, mas há quem peça mais estudos científicos para comprovar sua real validade em meio à discussão da poluição gerada no processo.
Nas obras de recapeamento do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, a partir de 1º de maio, a concessionária CCR AutoBAn usará o asfalto-borracha em 100% do percurso, em cerca de 2.100 km de vias, pontes e acessos. Segundo a empresa, durante toda a obra serão usados cerca de 1,3 milhão de pneus.
Entre as qualidades citadas do tipo de revestimento, estão: maior durabilidade por suportar os efeitos do clima e evitar rachaduras, não causar desgaste excessivo dos pneus, diminuir o nível de ruídos, resistir ao fluxo de veículos de carga, permitir o escoamento da água na sua superfície sem fazer spray e proporcionar boa aderência para evitar derrapagens.
Criado nos Estados Unidos na década de 1960, o asfalto-borracha tem sido utilizado naquele país, na Europa, na China, no Japão e na África do Sul desde então. No Brasil, ele chegou no início dos anos 2000, como alternativa para substituir os asfaltos aditivados com polímeros, um material sintético que também ajuda a melhorar o asfalto convencional, mas não tanto quanto o ecológico.
Segundo a Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), o asfalto-ecológico é 40% mais resistente que o tradicional e dura, em média, 14 anos, contra 10 do convencional.
Levantamento de 2021 da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) mostrou que havia 1.355 km de vias pavimentadas com esse material em 22 rodovias paulistas. Parte era no Sistema Anhanguera-Bandeirantes, que agora vai padronizar toda a rota com o novo piso. O Sistema Anchieta-Imigrantes já faz uso desse piso.
“Em 2010 fizemos um grande investimento em pesquisa e chegamos à conclusão que o asfalto convencional não servia mais para nossa companhia”, diz Luís Miguel Gutierrez, gerente de pesquisa e qualidade da CCR AutoBAn. “Ele até resiste, mas teríamos de fazer muito mais obras de reparo.”
Gutierrez afirma que enquanto o asfalto tradicional resiste a temperaturas de 64ºC, o emborrachado aguenta até 76ºC, o que é importante na atual época de crise climática no mundo.
“Essa resistência ainda é importante porque os caminhões estão mais pesados que antigamente, o que força o pavimento e aumenta ainda mais a temperatura. Isso quando os veículos não estão acima do limite de carga permitido, o que gera ainda mais problemas”, conta o pesquisador.
O único porém dos defensores é que o custo do piso emborrachado é maior que o tradicional, uma vez que possui mais etapas de produção. Eles, no entanto, afirmam que compensa.
O engenheiro João Merighi, professor de pós-graduação do Instituto Federal de São Paulo, porém, coloca em dúvida essa defesa do asfalto-borracha. Ele afirma que faltam pesquisas científicas para determinarem o seu custo-benefício e também análises dos gases provenientes da reciclagem, que seriam prejudiciais à saúde.
“Tem de ser feito um estudo por laboratório isento de fora do país. A comunidade técnica científica gostaria de ver os estudos e participar de debate público para ver qual é o ganho do pavimento, e ouvir de médicos que os gases não fazem mal à saúde”, diz.
Fonte: Folha de S.Paulo
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