ESG e o Alicerce da Ética
* Danilo Talanskas
Nos últimos anos a sigla ESG (no inglês Environment, Social e Governance) ganhou relevância no mundo inteiro, especialmente no Brasil, onde um número crescente de companhias busca se adequar às normas e métricas não financeiras e tornar público o seu desempenho nas áreas ambiental, social e de governança. Aos poucos, este tripé de conceitos tem substituído o que há anos se falava sobre sustentabilidade.
Em minha visão, ética é o princípio que forma o alicerce nas três áreas, pois o(a) gestor(a) ou companhia que sempre teve ações profundamente comprometidas com um comportamento honesto terão normalmente uma forte preocupação com o meio ambiente, com o impacto social no sentido de direitos humanos, respeito às leis trabalhistas, diversidade, satisfação do cliente, etc. Ao mesmo tempo, tem de trabalhar com um rígido processo de governança, onde práticas anticorrupção já são parte de sua rotina, assim como a transparência de dados, canais de denúncias de assédio, etc.
Por outro lado, é simplesmente incrível como tudo aquilo que se torna público e é medido, passa a ser o foco dos gestores.
Isso me faz lembrar do Mito do Anel de Giges, descrito no livro República, de Platão, no qual um pastor torna-se invisível ao colocar o famoso anel. A grande discussão que o Anel de Giges traz é até que ponto o comportamento do indivíduo é moral e justo, por ser público, e qual seriam suas ações se absolutamente ninguém visse o que estivesse fazendo.
Em um mundo utópico, no qual todos os indivíduos e companhias fossem 100% éticos, ao se lançarem métricas para medir o modus operandi na questão do ambiente, ao social ou à governança, estaríamos falando apenas em listar o bom desempenho em todas as áreas. No entanto, ao se “tirar o Anel de Giges”, vemos que há muito ainda a melhorar.
Toda e qualquer mudança começa sempre com as ações individuais. Esta é a menor célula, que vai transformar toda uma companhia na coletividade e até mesmo o país. Não há dúvidas de que o grande alicerce para este progresso vem de um comportamento ético em todas as frentes de ação de um negócio, guiado pelo exemplo de seus líderes.
Quando esta bússola norteia as decisões em todas as áreas de influência de uma companhia e se busca as melhores marcas possíveis no ESG, não haverá surpresas ao “se tirar o Anel de Giges”, pois as ações e comportamentos serão os mesmos, que já estarão consistentes com a cultura dominante de uma organização.
*Foi o CEO de três multinacionais: GE Healthcare, Rockwell Automation e Elevadores Otis. Em paralelo à sua carreira como executivo, atuou como palestrante e professor em cursos de pós-graduação nas áreas de Estratégia, Ética e Negócios Internacionais.
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