Cresce a procura por transporte alternativo na pandemia
O tema da mobilidade urbana nunca esteve tão em voga quanto agora. Um estudo levantado pela plataforma Moovit analisou milhões de viagens realizadas durante a pandemia em 104 cidades, de 28 países, com o objetivo de montar um panorama sobre o transporte público e a micromobilidade pelo planeta. De acordo com a pesquisa, no Brasil, 36% dos passageiros passaram a usar menos transporte público nesse período. O fenômeno provocou ainda o aumento da procura por transportes alternativos, como o uso de bicicletas, bicicletas elétricas, patinetes elétricos ou skates.
Segundo dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), as projeções de vendas de bicicletas elétricas para 2021, no cenário mais conservador, são de crescimento de 23%. Em uma conjuntura mais otimista, o incremento das vendas poderá chegar a 34%, atingindo 43 mil unidades vendidas até o fim de 2021. São vários os benefícios resultantes do uso desse meio de transporte. Além de permitir o distanciamento social, evitando a disseminação da Covid-19, auxilia também na redução da emissão de gases poluentes. Segundo Marcos Fortuna, CEO da Two Dogs Brasil, empresa líder em alternativas elétricas para mobilidade urbana, as bicicletas elétricas possuem uma vantagem competitiva sobre o uso do automóvel, especialmente nos grandes centros:
“Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, o tempo médio de viagens para distâncias curtas é bem longo, devido aos congestionamentos e ao grande número de carros. Um veículo elétrico que chega a 25 Km/h, como o patinete ou a bicicleta, por exemplo, pode percorrer uma média de 8 km, em apenas 20 minutos. Essa mesma viagem, de carro, poderia durar até 40, 45 minutos. É um tempo de vida que você ganha”, afirma Fortuna.
Isolamento acelera processo para quem já queria mudar o estilo de vida
A necessidade de estudar e/ou trabalhar em casa fez com que muitas pessoas repensassem seus hábitos em relação à mobilidade nas cidades.
“Em pouco tempo, vimos nossas vendas – até então focadas no B2B – crescer 40% para o consumidor final desde o início da pandemia. Só podemos entender que a necessidade de novos meios de transportes mais práticos, econômicos e eficientes se tornou uma preocupação latente. Muitas pessoas em home office e isolamento venderam seus carros e buscam alternativas para se locomoverem em distâncias próximas de casa”, explica o empresário.
A troca dos carros por veículos elétricos leves, como as bicicletas, skates, patinetes, representam uma economia para o bolso do consumidor. Foi o caso do curitibano Tony Manicka, morador do Bairro Alto, na capital paranaense. Ele optou por vender o carro no início da pandemia – em abril de 2020 – e comprou uma bike elétrica. Ele diz que a economia mensal dele com gasolina, apenas no trajeto casa-trabalho (Bairro Alto-Cabral) é de, em média de R$300 por mês. E que, quando não está com tanta pressa, resolve pedalar também, ajudando a manter a saúde em dia.
Cidades em 15 minutos — Essa tendência de troca de veículos automotores pelas bicicletas e/ou meios de transporte alternativos segue o conceito das “Cidades de 15 minutos”, que vem sendo aplicado em grandes centros europeus, como Paris e Barcelona, e ganhou força com o isolamento social. A ideia principal é tornar menores os deslocamentos dos moradores, criando a consciência de que todos possam aproveitar os serviços do seu próprio bairro ou adjacências, que estejam ao alcance dos “15 minutos”, evitando assim a disseminação do coronavírus e protegendo o meio-ambiente.
Para ajudar as pessoas a entenderem as vantagens de veículos alternativos, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) criaram um site interativo (http://www.ciclovida.ufpr.br/?page_id=504). Nele é possível verificar o quanto é possível economizar no fim do mês e quantos gases poluentes deixariam de ser emitidos, respondendo a três perguntas básicas: Qual a distância da sua casa até o trabalho/faculdade?; Quantas vezes por semana você pretende usar a bike?; e Qual o preço médio da gasolina e/ou da passagem de ônibus na sua cidade?
No caso do Tony Manika, além da economia direta no bolso, ele já começa a sentir também o ganho em qualidade de vida. Além da “sensação de liberdade”, de poder sentir a brisa no rosto em trajetos curtos e rotineiros, ele deixa de emitir, em média, 96 kg de gases poluentes por mês.
“É uma tendência global de consumo: optar por marcas e/ou produtos em sintonia com o meio-ambiente. A escolha por veículos alternativos – elétricos ou não – e a preferência por um estilo de vida mais saudável nos grandes centros urbanos, são uma forma de tornarmos as cidades mais inteligentes”, finaliza Marcos Fortuna.