O compromisso de SP com a descarbonização até 2050 é ambicioso?
Em meio às drásticas mudanças climáticas, o Governo de São Paulo lançou uma importante frente na busca pela redução de emissões de gases de efeito estufa no estado. O chamado Compromisso SP Carbono Zero tem como objetivo incentivar uma frente de lideranças comprometidas com a cultura da descarbonização, alinhada à campanha Race to Zero, da ONU, cuja meta é zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. Mesmo sendo o estado mais populoso, ultrapassando 44 milhões de habitantes, e com o maior PIB do país, essa meta é viável?
Para Fernando Beltrame, especialista em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero e CEO da Eccaplan, embora o Compromisso SP Carbono Zero seja um passo na direção certa, é essencial que esteja acompanhado de medidas tangíveis e um engajamento contínuo de todas as partes interessadas para garantir o sucesso na redução das emissões de CO2 e na construção de um futuro mais sustentável para São Paulo e para o planeta.
“Atuando no mercado de carbono há mais de 10 anos, reconheço que zerar as emissões líquidas até 2050 é, sem dúvida, uma meta extremamente ambiciosa, mas, também uma necessidade urgente para enfrentarmos as ameaças das mudanças climáticas e garantirmos a sustentabilidade do nosso planeta para as gerações futuras. Para alcançar esse objetivo, precisaremos de um esforço coordenado, envolvendo as empresas e seus gestores”, afirma Fernando Beltrame.
De acordo com o especialista, é necessário considerar um dos principais desafios nesse caminho, que é o reconhecimento por parte das empresas para a importância de pensar sobre as suas emissões, mensurar e quantificar. Além disso, alcançar uma redução significativa exigirá mudanças consideráveis nos padrões de consumo e comportamento da população. Isso pode incluir incentivos para reduzir viagens de carro individuais, promoção do uso de transporte público e a adoção de práticas de consumo mais sustentáveis. “Garantir o cumprimento das metas de redução de emissões exigirá um sistema eficaz de monitoramento, relatório e verificação. Isso inclui o desenvolvimento de métricas claras e confiáveis para medir o progresso, bem como a implementação de mecanismos de fiscalização e aplicação de leis para garantir a conformidade. Enfrentaremos obstáculos, econômicos e sociais, ao longo do caminho, que exigirão liderança, comprometimento e cooperação internacional”, explica o CEO da Eccaplan.
Energia limpa como aliada
Fernando Beltrame acredita que uma campanha de incentivo, por si só, pode não ser suficiente para alcançar as metas ambiciosas de descarbonização. Por isso, se torna crucial que o compromisso seja acompanhado com investimentos significativos em infraestrutura sustentável e tecnologias limpas.
Fontes de energia como solar, eólica, hidrelétrica, biomassa e geotérmica não emitem CO2 durante a geração de eletricidade. Ao substituir combustíveis fósseis por essas, é possível reduzir significativamente as emissões de CO2.
Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Brasil registrou, no primeiro trimestre de 2023, a maior produção de energia limpa dos últimos 12 anos. Em janeiro, as fontes renováveis de energia hidráulica, eólica e solar, somadas, foram responsáveis por 91,2% do abastecimento do Sistema Interligado Nacional (SIN). Nos meses seguintes, esse patamar se manteve elevado, com fevereiro registrando 92,6% e março, com base nos dados apurados até o dia 29, chegando a 92,4%. A participação de geração das fontes renováveis não superava 90% desde 2011.
“Ao adotar e promover práticas e investimentos como esse, os países, empresas e indivíduos podem desempenhar um papel significativo na redução das emissões de CO2 e, consequentemente, ajudar a mitigar as mudanças climáticas. Apesar dos desafios, acredito que é possível alcançar essa meta se agirmos com determinação, inovação e colaboração”, finaliza Fernando Beltrame.
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